Por que o autor da teoria da civilização alienígena criadora desistiu de suas ideias?
O ganhador do Nobel, Francis Crick, sustentou seu ponto de vista por mais de 30 anos, até que...
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É claro que, até aí, qualquer relação é possível. Enquanto o líder da seita raeliana aderiu à teoria da panspermia direcionada após um suposto encontro que ele mesmo teve com seres extraterrestres, o físico Francis Crick o fez por motivos estritamente teóricos, quando se perguntou se era possível que a natureza criasse ao mesmo tempo dois elementos mutuamente interdependentes para dar origem à vida. Na época, o cientista não conseguia compreender como o material genético (ácido nucleicos, como o DNA ou RNA) e o mecanismo que permite sua perpetuação (proteínas chamadas enzimas) pudessem ter surgido simultânea e espontaneamente.
Se a síntese dos ácidos nucleicos é dependente das proteínas, e as últimas, por sua vez, necessitam dos ácidos nucleicos, Crick e seu colaborador Leslie Orgel se viram diante de um problema parecido ao do ovo e da galinha. Foi assim que chegaram à conclusão de que a vida terrestre teria sido originada em um mundo onde existia algum “mineral ou composto” que pudesse substituir a função das enzimas, um lugar de onde ela teria se espalhado para outros planetas, como o nosso, por causa da “atividade deliberada de uma sociedade extraterrestre”.
Apesar de não ser uma teoria convencional, a verdade é que Crick tentou responder uma pergunta incisiva a qualquer custo. Passaram-se muitos anos após a descoberta da dupla hélice do DNA até que se soubesse que o RNA pode atuar como enzima, sem a necessidade de as proteínas intervirem, ou seja, a solução para o problema que inspirou a hipótese da panspermia de Crick. Foi assim até que, em 1993, Crick e Orgel publicaram um novo artigo científico no qual não havia mais menções a uma suposta intervenção extraterrestre. O problema do ovo e da galinha “poderia ter sido resolvido se, no início da evolução da vida, os ácidos nucleicos tivessem atuado como catalisadores”, afirmaram os cientistas.
Fonte: BBVA Open Mind
Imagem: Marc Lieberman / Wikipedia Commons